Felizmente não sou um robô de cozinha
Não sou a favor da grande invasão de robô de cozinha que têm acontecido nas nossas cozinhas. Chamem-me fundamentalista, ou até um nome feio, mas nunca fui. Percebo a sua utilidade nas cozinhas de alguns grandes restaurantes em que tudo é delegado e é preciso manter um standard. Tudo tem que sair sempre com a mesma qualidade. Afinal, estamos a pagar muito por essa qualidade. Já em casa, não percebo. Haverá gente que diz que lhes salvou a vida, que lhes deu tempo para tudo, que agora sim cozinham tudo porque antes não sabiam cozinhar. Mas a verdade é que se calhar nunca tentaram. Haverá os que nunca tiveram interesse, mas esses nem sequer chegam até ao blog. Cozinhar é um sacrifício necessário à sobrevivência e não um prazer.
Eu prefiro não ser um robô de cozinha e tenho orgulho nisso. Tenho as minhas falhas e as minhas coisas boas. Não atingo a regularidade do robô, essa é óbvia. Às vezes vou fazer pior, as coisas vão correr mal. Ou porque foi a primeira vez, ou porque não era um bom dia, ou só porque sim. Mas das outras vezes vou ser muito melhor. Assim, de longe, destacado. E no final, todos os dias, os bons e os maus, vão compensar. Porque nos bons fico orgulhoso e nos maus aprendo. Outra das grandes vantagens que tenho é essa: posso aprender mais. A fazer mais, melhor, diferente. Todas as vezes que entro na cozinha é uma experiência nova, mesmo que faça o mesmo prato 50 vezes. Mesmo que se siga uma receita escrita num livro muito antigo. Aliás, essas até são as melhores. Não há cá medidas. Metes um punhado disto e outro daquilo. Vais lá pela experiência, pela vontade, pelo palato. Pelo prazer de cozinhar.
O afastamento da cozinha está a retirar aos Portugueses algumas das suas tradições. A tendência, acho que é piorar.
Eu percebo. Nem sempre é fácil cozinhar para outros. Afinal, como em todas as experiências que temos na vida, umas são mais marcantes que outras. A confiança que temos no que fazemos oscila. Tem que ser cuidada e acarinhada no seu crescimento. Quando as coisas correm mal, a mesma pode vacilar, mas nunca pode cair. Os erros fazem-nos melhor. Os únicos que nunca melhoram com os erros são os que nunca erram. Mas esses são os mesmos que nunca tentam, que nunca fazem, que nunca aprendem.
Sejam menos robôs e errem mais. Vão ver que vão aprender mais e o caminho é mais divertido. Nós por aqui erramos muito e sentimo-nos crescer a olhos vistos.
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